quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

# Coisas que finjo que sei #

Interessante como criamos um personagem e nem nos damos conta. Não. Esquece. Reformulando. Criamos vários personagens. Não somos um só. Nunca somos. Juramos que somos. Que não mudamos de opinião, que não nos contradizemos, que seguimos nossos próprios conselhos. Idiotice. Loucura. Abobrinhas. Não somos assim. Não somos lineares. Não sabemos o que queremos. Fingimos. Fingimos que estamos no caminho certo, fingimos que seguimos a estrada que traçamos, fingimos que somos felizes e completos. Fingimos e é isso. Aí, quando alguém nos pergunta "como está?", nem pensamos duas vezes e respondemos: "está tudo maravilhosamente bem! E com você?". Fingimos que está tudo bem e fingimos que nos interessamos por terceiros. É, é isso. Porque nada está maravilhosamente bem sempre - nem de longe, nem nunca, se penso bem - e tampouco estamos interessados em como a outra pessoa está de verdade. Vê-se isso pelo fato de que se por algum motivo o outro não finge e diz que tudo está uma merda, que perdeu o emprego e sei lá mais o quê, o cortamos com um "não se preocupe, tenha fé que logo, logo tudo se ajeita!". O fazemos porque não queremos escutar. E fingimos que acreditamos que logo, logo tudo se ajeita.

Fiz análise e descobri que meu problema central é pensar demais. E pensando demais vi que esse fingimento globalizado não é bem o que me atrai - e é nisso que me ferro. Não gosto de fingir. Se quero, eu quero. Se não quero, passo adiante. Só que as pessoas não estão muito acostumadas a ver alguém abrindo mão de algo simplesmente porque não quer engolir sapos. Na verdade, eu também não aceito muito bem essa minha faceta. Não gosto da minha extrema racionalidade. Isso faz com que eu perca realmente muita coisa - e ao mesmo tempo me evita muitas dores de cabeça e é nisso que me baseio e me firmo para manter a minha postura. Só que a sociedade não aguenta muito bem a verdade. Não aguenta que alguém realmente diga o que pensa e defenda as suas idéias - se elas contradizem a opinião geral, quero dizer. É bem melhor fingir que está tudo bem, fingir que a vida é a novela das 8 e que no final o mocinho vai salvar a mocinha. É melhor fingir que se é Poliana, fingir que não se precisa encarar os fatos e refazer caminhos, fingir que a mediocridade é o que salva a alma humana.

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