quinta-feira, 17 de julho de 2008

Doação / com adendos

Não vou mudar o texto que está aí embaixo, Zuzu, mas depois dos comentários da Ione, acho que vale a pena que eu aclare um cadin que sei que a idéia mirabolante de fazer com que todo bandido se transforme em um doador de órgãos não é algo simples. E que bandido ainda não deixou de ser gente. Mas é algo muito complexo - inclusive para que eu escreva. Lembrem-se, eu fujo de temas polêmicos e sérios (eu sou aquela que gasta todo o salário em roupas e sapatos, deusdocéu...!!!). Mas o que eu quero mesmo que se considere, Zuzu, é que é um ato de cidadania fazer com que todos saibam que ao morrer você quer ser um doador. E deixemos as outras controvérias para os outros... =)
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Já disse que a minha vida tem andado uma mistura de Greys Anatomy e House M.D. Pois é. A parte boa é que tá fácil conseguir bons médicos e bom atendimento em hospitais públicos.

Hoje durante a aula falava com um deles sobre doações de órgãos. Ele me contou que tem muita gente que se recusa a doar os órgãos dos parentes com a seguinte alegação: "como ele vai chegar lá em cima sem órgão, dotô?". Pois é. A ignorância reina.

Ele me disse o quanto certas histórias o incomodavam - na verdade, não as histórias em si e sim o fato das pessoas acreditarem nelas! Que vão te matar no hospital para pegar os órgãos, que vão te raptar para te matar para pegar os órgãos, que vão te dar um Boa Noite, Cinderela e você vai acordar numa banheira de gelo... porque queriam roubar os seus órgãos!

Explicou o processo: São 3 médicos para fazer a avaliação - dois são, obrigatoriamente, neurologistas ou neurocirurgiões e não têm contato um com o outro. Cada um faz uma avaliação separado. E tem o médico que vem da Central de Doação. E ele também assina um laudo no qual atesta a morte. Além disso o paciente é levado para exames que também comprovem a morte cerebral. É uma burocracia tremenda. É muita gente envolvida.

Ao mesmo tempo que se busca saber a certeza da morte cerebral, já se começam a fazer exames de sangue e afins para ver como está a saúde do paciente como um todo.

Mas ainda se precisa da autorização da família... Que muitas vezes, simplesmente, nega! E ele disse que a maioria das vezes é por causa da religião. E quanto mais pobre a pessoa, pior é. Eu somo a deturpação da religião a ignorância do povo.

Ah, outra coisa que acho que é o medo de muitos: eles tiram os órgãos que sejam possíveis - de osso a pele. Entretanto, não entrega o cadáver fatiado pra família. Dentro do caixão não há como saber que o morto não tem mais córneas, ou rins, ou pulmões. Não há como argumentar isso, por favor...

Me contou um caso de um bandido que teve morte cerebral e a família doou todos os órgãos dele. Chegamos ao consenso que esse deveria ser o destino de todo marginal: morreu, doam-se os órgãos. Pagar depois de morto o mal que fez.

Eu não sei a sua religião, Zuzu, não sei o que você pensa, o que você defende. Entretanto, saiba que doação de órgãos é um ato de cidadania. É uma forma de realmente mostrar que se preocupa com os outros - não somente "o próximo" e sim, com todos.

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