sexta-feira, 11 de julho de 2008

O mesmo rio nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar

    Me lembro que escutei isso – ou algo similar – pela primeira vez numa aula na Faculdade. Não entendi perfeitamente na época e algo me diz que continuo sem entender completamente até hoje.

    Entretanto, nesse exato momento, tenho uma vivência de tal fato no momento. Como, realmente, nós nunca somos os mesmos de um segundo para o outro. Há mudanças. Há novas vivências, experiências e conceitos. Tudo muda, a todo momento.

    Fui a UERJ hoje e me lembrei perfeitamente da primeira vez que entrei lá como aluna. Aluna mesmo, primeiro dia de aula. Se formos pensar bem, uma das primeiras vezes que saía de casa de ônibus pra um lugar relativamente "longe". Pois é. Eu achava o Maracanã longe. Vai entender. Me lembro do que senti, o que esperava. Da primeira pessoa com quem falei – a Michele. Também era o primeiro dia dela. E, como eu, havia chegado muito cedo. E, como eu, faria Espanhol.

    Tanto tempo, tanto tempo e me parece que foi ontem. Sinto como se tivesse sido ontem. Como se 10 anos fossem... 24 horas.

    Entretanto, sei que 10 anos são coisas que pesam demais em mim. E nem falo isso porque engordei o que emagreci no tempo de faculdade... rsrs... Brincadeirinha. É que estava ficando sério demais.

    Mas sim, 10 anos me deram uma bagagem incrível. Porém, tantas coisas continuam sendo exatamente igual aos 19. Como é que pode, não é mesmo?

    Escutei de alguém que não se sentia velho. Essa pessoa deve ter quase 80 anos. Me disse que não se sentia com 80 anos. Que na verdade, era exatamente igual ao que era na adolescência. Acho meio exagerado alguém chegar aos 80 igual a uma adolescente (mesmo que a pessoa em questão tenha uns rompantes adolescentes mesmo...), mas acredito que esses 80 anos soem pomposos para quem está de fora, para quem gosta de arregalar os olhos e falar pausadamente "isso é uma vida". Quem está dentro só vê que chegou lá. E ponto final. Por mais que as pessoas digam que já sofreram, já viveram, etc e tal, nunca tem consciência plena do fato – talvez se tivessem consciência de cada detalhe, enlouqueceriam. Por completo, digo. Eu não sou totalmente normal não.

    Realmente, como disse, não acredito que aos 80 eu chegue como uma adolescente. Não, não. Mas reconheço que ao mesmo tempo que muita coisa vai sendo agregada, aos 80 ainda terei muitos dos meus vícios dos 30 que com certeza nasceram lá nos 15. Serei e não serei a mesma. Se o curso da vida segue o caminho natural, eu não terei perdido muitas das minhas qualidades e manterei diversas das minhas manias. Porque, no fundo, no fundo, gosto de muitas manias minhas. Elas fazem como que eu seja única. Que eu seja eu. Que eu me reconheça no espelho, no andar, nas escolhas e nos erros.

    Nossa... quanta coisa passou pela minha cabeça nas últimas 4 horas... Porque vi o que considerava importante voltando até mim. Refleti que tenho que realmente tomar muito cuidado com o que peço a Deus, porque ele pode me atender prontamente – e talvez o que eu considero como salvação seja o início do fim. Vi que ao mesmo tempo que eu mudo, os demais mudam a minha volta. E, por vezes, o que nos é muito importante, depois de um tempo pode não ser mais. Por causa do rumo da vida, por causa de uma palavra mal colocada, por causa de uma decepção. Não que simplesmente tomemos aversão. Não, nada tão grave assim. É que, simplesmente, perde o encanto. E deixamos de lado. E não temos mais tanto zelo, tanta dedicação. E somos nós mesmos, diante de situações que já nos foram tão importantes... Mas não vemos mais o que as faziam tão importantes. E levamos tudo muito bem, e vivemos muito bem o momento. E ponto final.

    O que se perdeu pelo caminho?

    O que deixamos na última curva?

    Como certos brilhos se apagam?

    Da mesma forma o oposto acontece. Certas coisas as quais não dedicávamos um segundo olhar passam a ser o centro de nossa atenção. E nos recriamos em situações, em falas e somo nós mesmos, porém nos redescobrindo, renascendo, revivendo e exclamando "nossa, eu não sabia que seria capaz disso". Pois é. Isso é que o mais legal. Sempre podemos nos admirar com nós mesmos. Sempre podemos ser uma caixinha de surpresas – mas, pondere. Podemos trazer tanto más quanto boas surpresas. E, se nos fazemos isso, porque seria diferente dos demais com relação a nós? Por que temos essa idéia de que os outros não têm direito a erro? Por que buscamos em fora o que não temos dentro, a perfeição?

    Pois é.

    Coisas que aos 19 eu não considerava...

Nenhum comentário:

Postar um comentário