terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Salgado Filho - a saga

Então
De domingo pra segunda eu não dormi.
E trabalhei o dia inteiro.
Por que eu não dormi? Porque minha mãe, aquele ser brilhante, resolve abrir a geladeira às 2:30 da manhã pra ver o que era o barulho que ela tinha escutado. Ok. Qualquer um faria isso. Mas não depois de ter escutado o barulho, ter esquecido dele e ter ido dormir... E estar quase pegando no sono. Pois é. Essa é a minha mãe. E o que era? Uma garrafa que havia sido esquecida no congelador e tinha explodido. E como Murphy ama a minha família por igual, a porra do caco de vidro voou na perna da minha mãe... E abriu um puta rombo. 

O detalhe: a minha mãe não ligou pra mim, ligou pra minha irmã, que estava na casa do namorado, e eu só 2 andares acima dela. Foi a minha irmã que me ligou. 

Cara... quando entrei na cozinha dela, pensei "fudeu, esfaquearam a minha mãe" por causa da quantidade de sangue. Tanto sangue que eu não consigo mais ler os livros de vampirinho! 

E vamos pro Salgado Filho - eu, mãe e pai. 

Ah, descobri que toda a mendiguice do Méier dorme no hospital - também, com aquele ar condicionado potente, até eu dormiria lá! E a minha mãe, aquele ser sem noção de lugar/tempo/espaço, queria ligar para minha irmã para que ela levasse um casaco pra ela lá. Pois é. Essa é a minha mãe. Bem-vindos/benvindos (me acostumando a escrever assim) ao meu mundo. Mandei a minha mãe ficar quieta e que escolhesse melhor a roupa da próxima vez que quisesse se acidentar... 

E o tempo passa, o tempo passa... e nada do médico. Todo mundo que passava, eu perguntada pelo médico... E sempre a mesma resposta: "está em cirurgia". Pois é. Quando passaram dois cadáveres empacotados pensei: "beleza, a cirurgia terminou". Que nada. Doce ilusão. 

Até que a acompanhante de uma paciente que estava deitada numa  maca no corredor, chegou e me disse: "olha, a médica esteve aí, atendeu um cara e foi dormir... ela estava dormindo antes de atender". Cara. Achei um absurdo. Não que ela estivesse dormindo às 3:30 da manhã. Direito dela. O absurdo é não ter ninguém no hospital que vá chamar a médica. E ainda ficar dizendo que ela está numa cirurgia! 

A mulher me disse onde ficava a sala da chefe dos médicos... E eu fui lá. E a chefe estava...? Um doce pra quem descobrir...? Isso mesmo, Zuzu! Ela estava dormindo. Mas me disse onde eu devia ir achar a médica... Numa sala chamada "conforto". Que legal, não? Eu morrendo de frio, em pé, com a minha mãe com sangue saindo pelas ventas - melhor, pela buceta que ela tinha aberto na perna - e a médica dormindo... 

Bati na porta e depois abri. Chamei uma vez... E nada. Chamei pela segunda vez... E nada. Chamei pela terceira vez e a médica respondeu toda grossa "já estou indo". E ainda me deu esporro. Porque tem pessoas "dormindo naquela sala". Eu simplesmente disse: "Desculpe-me, mas se a senhora tivesse respondido da primeira vez, com certeza eu não teria chamado pela segunda e tampouco pela terceira". 

Quer saber o mais interessante? Quando eu cheguei na sala de sutura, parei na porta a cadeira de rodas da minha mãe, eu vi a médica passar. Ela estava acordada. Viu a perna da minha mãe ensanguentada... E o que fez? Nada. Foi pro "conforto" dormir. Se eu não tivesse seguido o aviso da moça que estava com a mãe com Alzeimer numa maca no corredor, minha mãe não teria levado 2 horas para ser atendida - teria ficado lá, até o plantão trocar e um médico se dignar a fazer o serviço dele: atender a quem estava esperando e não simplesmente fingir que não era o responsável pela área de sutura.

Vou mandar uma carta pro O GLOBO. Pelo descaso do médico e da equipe em si. Como é que simplesmente ninguém procura pela médica e diz que ela está em cirurgia? Eu perdi uma noite inteira, com um procedimento que não levou sequer 15 minutos - e depois disso com certeza a médica voltou a dormir. Enquanto eu tive que vir pra casa, tomar um banho e ir pro trabalho. 

Pelo menos descobri uma função muito importante do jaleco dos médicos: tapar a roupa amassada de ter dormido pelo plantão inteiro... 

Ah, sim. 
Eu sei de todos os problemas, de toda a falta de estrutura, da importância da medicina. Não discuto isso. Mas a revolta que senti dentro do hospital é algo que não dava pra passar em branco. 

E minha mãe está bem.
7 pontos no ferimento, meus dedos esmigalhados enquanto a médica limpava e dava os pontos, eu quase desmaiando por causa do cheiro... Mas tá tudo bem sim.

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