sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Sobre deixar partir

Estava vendo a reprise de Grey's Anatomy. Peguei pela metade e não sei muito bem o que aconteceu, mas digamos que foi uma tragédia daquelas, com mutilações, partos em mulheres de corpos queimados e pessoas com uma barra de ferro atravessando os corpos, prendendo-as juntas. Nesse último é um homem e uma mulher que estão nessa situação.
Resumindo...
A perna mutilada foi perdida e a médica trouxe uma de mulher, portanto não servia e ela teve que ir à caça da perna. Não a achou, mas outro médico achou e ficou com a vaga dela na cirurgia. Detalhe: a perna foi entregue ao médico, por um dos pára-médicos...
O parto foi bem sucedido. Eram duas lésbicas que eram namoradas desde a 3ª série e queriam ter os bebês juntos, porém não foi possível porque a que estava queimada teve que ter antes.
E a barra de ferro... Bem, só um paciente conseguiria sobreviver e a mulher era a que tinha menos chance. E eles falaram isso para eles, pois os dois estavam lúcidos. Sim, omitiram o fato de que a morte era certa, mas foram sinceros dizendo que era bem provável. Ela queria esperar pelo marido, porém ele não conseguiu chegar. E ela disse simplesmente "tudo bem". Se esperassem mais o homem também morreria.
Foi a última parte que me chamou realmente a atenção. Porque todos os médicos sabiam que ela morreria, era um fato consumado, porém, tentaram operá-la. Só que o estrago havia sido muito grande e quando tentaram operá-la e a hemorragia ficou muito intensa, pararam e passaram para o paciente que realmente tinha chance de sobreviver. Todos, menos a Meredith Grey, porque disse que não poderia deixá-la lá, assim, aberta, sem tentar. Pois é. É aí que eu penso que temos realmente essa (má) prática de investir no que sabemos que não tem mais salvação, que não tem jeito e podemos focar tanto em algo perdido, que não teremos mais que esquecemos do que está ao nosso lado e que podemos salvar, melhorar e fazer crescer.
Por vezes o pensamento pequeno faz com que vejamos só o que está na nossa frente como o que nos salva, nos guia e nos faz feliz. Entramos num transe quase do "vou fazer ficar bom, vou colar o que quebrou, trazer a vida ao que está morto". Mas não é assim que a vida segue, não é assim que crescemos.
E quando o fim que já foi anunciado realmente acontece, ficamos com aquela sensação de "fui enganada" ... Acho que a frase deveria ser reformulada para o "me enganei". Porque é isso mesmo, porque tudo foi dito, foi colocado, foi mostrado e nós fingimos que não acontecia. E queremos prender, queremos continuar tentando, queremos não deixar partir... E me lembro da música do Leoni/Kid Abelha (Alice não me escreva aquela carta de amor) sobretudo na parte: Alice eu tô treinando prá te enfrentar/ Tenho mil motivos prá você me suportar/ Fica mais uma semana/ Nesse tempo a gente engana. Exatamente porque tudo passa ser um engano, um estorvo, o que não era pra ser... E vale a pena mesmo investir suor, amor, lágrimas, ressentimentos, vida e tempo num ledo engano?

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